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UFPR participa do 1º Seminário de Comunicação e Agroecologia do Paraná

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Encontro reuniu cerca de 80 pessoas de todo o estado, de movimentos populares, universidades, organizações e coletivos

Em Curitiba, o 1º Seminário de Comunicação e Agroecologia do Paraná reuniu comunicadores paranaenses para debater o papel da comunicação popular no contexto de crise ambiental. O evento ocorreu nos dias 9 e 10 de novembro, na APP Sindicato. A atividade teve como objetivo fortalecer a Jornada de Agroecologia e iniciar a construção de uma rede permanente para comunicar a temática.

Participaram do seminário movimentos sociais, entidades e redes de comunicação, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); o Brasil de Fato Paraná; a Terra de Direitos; o Núcleo de Comunicação e Educação Popular (NCEP) da Universidade Federal do Paraná (UFPR); as Universidades Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e da Fronteira Sul (UFFS); a APP Sindicato; o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba (Sismuc); o Coletivo de Comunicação Indígena Djagwa Etxa; a Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (Assessoar), entre outros.

O primeiro dia foi formativo, e o seminário discutiu a agroecologia e a comunicação popular no contexto atual. Pela manhã do sábado, a mesa foi composta por Jaqueline Andrade, assessora jurídica popular da Terra de Direitos, Ana Chã, integrante do Setor Nacional da Cultura do MST e autora do livro “Agronegócio e Indústria Cultural”, e Roberto Baggio, coordenador estadual do MST e um dos fundadores da Jornada de Agroecologia.

O debate envolveu a crise ambiental e o avanço do capitalismo em âmbito mundial, o papel da cultura e da comunicação na disputa de ideias, e a Jornada como um movimento de resistência no Paraná à hegemonia do agronegócio. Para Ana Chã, a incapacidade do capitalismo de dar conta das demandas da humanidade faz com que a carga ideológica seja cada vez maior. Nesse sentido, a comunicadora fala em áreas de dominação cultural, como a TV, as redes sociais e as instituições de ensino, em que o agronegócio faz ofensivas para a manutenção da narrativa hegemônica, como o “agronejo”.

Jaqueline Andrade, advogada popular formada pelo Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), descreve a situação atual da exploração da natureza no mundo e os problemas criados pelo modo capitalista. Diante disso, coloca a agroecologia como resposta: “uma cosmologia ancestral, de respeito à natureza e ao humano”.

No Paraná, a experiência de enfrentamento ao projeto capitalista de produção agrária se deu com a Jornada de Agroecologia, que desde o início se insere na batalha das ideias, segundo Roberto Baggio. Para ele, a Jornada se materializa em uma união de sujeitos coletivos sob o pilar da democratização da terra, formando um movimento de denúncia do agronegócio e de afirmação da agroecologia.

Durante a tarde de sábado, o debate girou em torno de experiências de rede de comunicação e os desafios desse campo diante das redes sociais e das novas mídias. Jovana Cestile, produtora agroecológica e comunicadora popular do MST, apresentou sua experiência de manter uma agrofloresta e falou sobre os desafios da comunicação popular. De acordo com ela, é necessário entender que todos podem ser comunicadores, e que, nesse sentido, o produtor agroecológico deve ser incentivado a comunicar seu cotidiano.

“A saída é coletiva”, afirma Bianca Lima, comunicadora do Mídia Ninja, que expôs o trabalho da Xepa Ativismo e os aprendizados conquistados nos anos de comunicação nas redes, que entrelaçam luta material e disputa de ideias. Ela fala de um comunicar alternativo: “O discurso não é jornalístico, é de baixo pra cima, é uma cobertura das nossas vidas e práticas”, conta.

Franciele Petry Schramm, assessora de comunicação da Terra de Direitos e integrante do Coletivo de Comunicação da Jornada de Agroecologia, discorreu sobre os desafios colocados pelas redes sociais, pelos algoritmos e pelo uso de dados dos usuários pelas plataformas. A comunicadora apresentou uma cartografia da internet, que revela um colonialismo digital – em que países do Sul Global, em grande parte, são destinos de lixo eletrônico e possuem pouco acesso à conexão.

Depois das falas, as comunicadoras e os comunicadores presentes no seminário dialogaram em grupo sobre possíveis formas de superar obstáculos para fazer comunicação dentro de cada região, como a falta de formação para criar materiais e usar ferramentas, como as redes, e também questões materiais como o acesso à luz e à internet.

No segundo e último dia, Elson Faxina, professor do curso de Jornalismo da UFPR falou sobre como funcionam as redes de comunicação popular e como essa estratégia pode enfrentar a hegemonia. Segundo Faxina, as redes são formadas por nós, e se articulam a partir de ações pequenas, mas que têm uma direção grandiosa. Numa rede, as pequenas produções de comunicação se dissipam e são re-editadas por outros nós da rede, de forma a capilarizar e dar corpo a uma unidade – construída por paixões: “O que muda uma sociedade são as histórias que ela ouve”.

Em seguida, Ednubia Ghisi, comunicadora do MST, e Murilo Bernardon, estudante de jornalismo, socializaram a experiência da cobertura colaborativa da Jornada de Agroecologia, como unidade de sujeitos coletivos diferentes, que se fortalece pela diversidade, e propuseram a criação de uma rede de comunicadores voltados à agroecologia, um coletivo pensado a partir da Jornada, mas que se articule de forma permanente, não somente durante o evento.

Na etapa final do encontro, os presentes se dividiram por região do Paraná onde atuam e conversaram sobre maneiras de se ampliar a divulgação da Jornada, quais ações manter depois do evento e de que forma manter os nós da rede em cada região. O debate encaminhou ações concretas para a construção desse campo, como a criação de um mapa para articular comunicadores populares em todo o Paraná – e também para expor ações agroecológicas espalhadas pelo estado.

Este seminário faz parte do projeto Bem Viver, realizado a partir de convênio entre o Instituto Latino Americano de Agroecologia Contestado (ICA) e a Itaipu Binacional. Outras três edições estão previstas para ocorrer nos próximos três anos, a nível regional.

Por coletivo de Comunicação da Jornada de Agroecologia

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