O Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná impressiona quem circula diariamente pela Praça Santos Andrade, em Curitiba. Contudo, poucos sabem sobre a história social, cultural e política que se encontra no interior da construção.
O projeto de extensão do Centro de Memória e Documentação do Setor de Ciências Jurídicas da UFPR busca tornar esses fatos mais conhecidos. Para isso, professores e estudantes trabalham na catalogação do acervo da faculdade de Direito, na produção de pesquisas e na realização de visitas guiadas.
A equipe coordenada pelo professor Thiago Freitas Hansen organiza documentos, fotos, quadros de homenagens e monumentos que contam a participação de estudantes, professores e egressos em eventos sociais e políticos que ocorreram nos mais de cem anos do curso.
Um exemplo é de Pâmphilo D’Assunção, um dos primeiros professores do curso e homenageado pela primeira turma formada, no início do século XX. D’Assunção, um homem negro, também foi presidente da Associação Comercial do Paraná, presidente do Instituto dos Advogados do Paraná e irmão do fundador do que hoje é a Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Há ainda o caso de Ilnah Pacheco Secundino, estudante da faculdade nos anos 1930, que defendia o divórcio na época, muito antes de o Brasil estabelecê-lo legalmente, mais de 40 anos depois.
Outra curiosidade é a estreita relação entre a faculdade de direito e a literatura paranaense. “A UFPR é a casa do Dalton Trevisan, Wilson Rio Apa, Paulo Leminski, Hugo Simas, Emiliano Perneta. Essa turma toda estudou ou deu aulas aqui”, revela o coordenador. Isso se explica porque na época, não havia muitas opções de cursos nas humanidades. Por isso, os profissionais do direito se destacaram em outras áreas do conhecimento.
O material encontrado pela equipe mostra que havia espaço para posições políticas diversas dentro da universidade. Um exemplo é a relação com integrantes da faculdade com o regime militar. Enquanto o centro acadêmico recebia correspondências de quarteis, indicando um possível controle das atividades estudantis, havia a figura do professor José Rodrigues Vieira Netto. Deputado pelo Partido Comunista Brasileiro nos anos 1940, ele foi obrigado a ser aposentar da Universidade pelo governo militar após o golpe de 1964, mesmo sendo considerado um excelente professor por seus pares e alunos.
Além do acervo do centro de memória, o projeto de extensão promove visitas guiadas no prédio histórico. Nos três andares que abrigam o curso de direito, há várias fotos de turmas, bustos e placas de homenagens, que revelam disputas e posicionamentos que fogem do senso comum. Nesse contexto, o papel de investigação e identificação exercido pelos estudantes os torna mais pertencentes à história que é construída pela universidade.
Para os estudantes, conhecer e divulgar a história do curso e das personalidades os faz compreender o contexto social e histórico que conformaram a universidade e o estado do Paraná. “Nós percebemos que a construção da memória é uma construção política. Para nós, saber o quanto de coisa a gente pode fazer vendo o quanto outras pessoas já fizeram então é muito inspirador, afirma a estudante Sabrina Kurscheidt.
De acordo com a equipe, o projeto também busca reconhecer essas histórias e garantir que a universidade seja inclusiva e acolhedora para todas as pessoas, configurando-se em um ambiente que representa a diversidade da sociedade. Os agendamentos para as visitas guiadas são realizados para grupos fechados e podem ser feitos através do Instagram @amec.ufpr.
Imagens e texto por João Cubas/ Coordenadoria de Extensão UFPR
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