Entre os dias 3 e 7 de junho aconteceu em diversos locais do estado do Paraná a 2ª Jornada da Natureza. Articulada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Paraná o evento contou com apoio do Governo Federal e de diversas instituições como: IBAMA, INCRA-PR, CONAB, PRF, Embrapa e UFPR, que se organizaram para realizar uma série de ações de conservação e preservação da Natureza no estado.
As ações começaram no dia 3 de junho com a semeadura de sete toneladas de Palmeira Juçara no município de Quedas do Iguaçu, na Comunidade Dom Tomás Balduíno. No dia 4 de junho a semeadura ocorreu em Nova Laranjeiras, na Terra Indígena Rio das Cobras. Nesse dia a programação também contou com a implementação de um Sistema Agroflorestal (SAF) na área voltado para o plantio consorciado de araucária, erva-mate e mandioca. No dia 5 de junho nas comunidades Aliança e Nova Geração, nos municípios de Guarapuava e Pinhão, ocorreu a semeadura de uma tonelada e meia de pinhão.
No dia 7 de junho a semeadura de Palmeira Juçara ocorreu na Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger, no município de Antonina. A Comunidade, que é reconhecida nacionalmente pelo trabalho de recuperação ambiental de manejo agroflorestal, que desenvolve há mais de 20 anos, se destaca por ter recuperado a floresta aliando a preservação com produção de alimentos saudáveis, gerando renda e promovendo qualidade de vida às famílias. A professora Daniele Pontes, coordenadora do Projeto de Pesquisa e Extensão Plantear, além de participar do lançamento das sementes, destacou aspectos marcantes do manejo realizado na área, o retorno do rio ao seu leito natural, antes retificado de forma ilegal pelo antigo proprietário e a restituição da mata ciliar.
“Quero vir aqui, em nome do Plantear, da Universidade Federal do Paraná, agradecer o trabalho que é feito pela comunidade, porque esse trabalho é para a comunidade e para todos nós. E dizer que o Plantear tem feito estudos e levantamentos aqui, e a gente já tem algumas informações importantes da melhoria da área em função do trabalho da comunidade, do Movimento Sem-Terra. Essa área sofreu uma perda de extensão do rio entre 1985 e 2004 de 460 metros aproximadamente, e com a comunidade aqui o rio ganhou mais de 150 metros de extensão.”
Na Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger, o projeto de extensão de Planejamento Territorial e Assessoria Popular (Plantear) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) contribuiu com estudos técnicos que demonstraram os impactos sociais e ambientais da recuperação ambiental. A análise da evolução do leito do rio foi feita com o mapeamento em imagens de satélite, como constou no infográfico produzido pelo Plantear (2021).
O estudo técnico foi utilizado para fundamentar o debate jurídico sobre a aquisição da área pelo estado do Paraná. No trabalho de pesquisa ficaram evidenciados os benefícios sociais e ambientais produzidos pela comunidade em contraste com a situação de degradação anterior à sua permanência na área.
A capacidade de recuperação ambiental aliada à produção de alimentos saudáveis e geração de renda para famílias, foi aspecto destacado pelos representantes das instituições que participaram da organização da Jornada e que estiveram presentes nas comunidades onde as ações ocorreram
As comunidades em parceria com as instituições aceitaram o desafio de promover ações em prol do meio ambiente. São comunidades que possuem histórico de deslocamentos forçados, mas que persistiram e permaneceram semeando qualidade ambiental e melhores condições de vida, demonstrando que é possível construir alternativas sustentáveis que aliam a preservação da natureza, a produção de alimentos e a qualidade de vida às famílias no campo, cumprindo com o objetivo da função social da terra.
As ações coletivas tornam evidente a potencialidade das parcerias institucionais em apoio às ações populares. Foram muitos voos de helicópteros viabilizados pela parceria com a Polícia Rodoviária Federal, o que possibilitou o lançamento de toneladas de sementes nas florestas da Mata Atlântica que vão favorecer o incremento da biodiversidade. Sem dúvida essas atividades representaram a força e a organização popular dos movimentos sociais e a parceria com instituições do Estado. Cada voo realizado para o lançamento das sementes contou com a participação de dois voluntários, envolvendo representantes da comunidade e das instituições. Em ação coordenada e cooperada, o que caracterizou toda Jornada foi a esperança em semear um futuro com respeito, integração e preservação da vida no campo e da natureza.
O ato de encerramento da 2ª Jornada da Natureza ocorreu no sábado, dia 8 de junho, no Assentamento Contestado, no município da Lapa. O dia contou com uma Oficina sobre Manejo Agroflorestal em que alguns assentados explicaram a forma de produção aliada à conservação da natureza. No Assentamento Contestado está a Escola Latino-americana de Agroecologia (ELAA) que, em parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR), oferece um curso de Tecnologia em Agroecologia. A oficina ocorreu nas áreas experimentais de agrofloresta da escola.
Após a oficina de manejo agroflorestal ocorreu a mesa de encerramento que trouxe a fala dos organizadores e representantes de algumas instituições parceiras da Jornada. A contribuição e a importância do evento para a Universidade foram destacadas no seu papel pedagógico.
“Todo pensamento sobre o que é fazer uma jornada na natureza, esse conteúdo é importante, ele é inspirador. Ele muda também a forma como outras pessoas, não só aquelas que estão construindo, veem a natureza. Então, parabenizar pelo conteúdo e parabenizar pela capacidade de vocês de articular, de construir, de organizar, de trazer um conjunto de instituições, né, essas mais variadas instituições para construir esse processo.” disse o professor José Ricardo, coordenador do Plantear.
No Assentamento Contestado, o Plantear também está atuando, em parceria com o INCRA-PR, com assessoria técnico-jurídico para o manejo de recursos florestais que irão beneficiar a comunidade e posteriormente construir um planejamento de expansão do assentamento.
A participação da UFPR, com presença e atuação do Plantear, demonstra o reconhecimento da importância dos projetos de pesquisa e extensão, ao aproximar e disponibilizar os conhecimentos para e com as comunidades, buscando a transformação social e a preservação da natureza.
Escrito por Gustavo Soares (integrante do projeto Plantear)
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