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Conquistas de mulheres negras reforçam importância de ações afirmativas no PPGMade

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O Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMade) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comemora, em 2024, marcos importantes na trajetória de inclusão e representatividade de mulheres negras no campo acadêmico. Entre as conquistas, destaque-se a defesa da primeira tese de doutorado de uma aluna cotista e a seleção de uma estudante para o edital “Mulheres Atlânticas”, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

No ano de 2020, o PPGMade instituiu a política de cotas como forma de ingresso, recebendo os primeiros alunos em 2021. Hoje, o programa dedica 50% das vagas a candidatos negros (pretos e pardos); indígenas; quilombolas; povos e comunidades tradicionais; assentados/as da reforma agrária; povos do campo; professores/as da rede pública de educação básica; pessoas trans (transexuais e travestis); migrantes humanitários e refugiados/as.

E em 2024, o programa teve o primeiro fruto desta política: a primeira defesa de tese de uma aluna negra admitida por meio do sistema de cotas. A doutora Fabiane Moreira baseou sua tese em um estudo comparado entre duas comunidades negras que tem um modelo comunitário de educação muito importante, principalmente para a resistência de diferentes formas do racismo.

“Durante a pesquisa foi possível comprovar que as duas comunidades dão importância para o ensino e valorização da vida e do cuidado com o meio ambiente. O ensino que ocorre nesses espaços possibilita uma maior preservação de ecossistemas naturais”, diz Fabiane sobre a pesquisa.

Além dessa conquista, o PPGMade comemora também que a doutoranda Débora Chaves, mulher parda e única representante da UFPR selecionada no edital “Mulheres Atlânticas” deste ano, vai participar de um “estágio sanduíche” em uma instituição estrangeira.

“Estou indo para o Chile  com um plano de trabalho para aprofundamento teórico e desenvolvimento de ações socioambientais, inter e transdisciplinares, com base em estudos sobre desenvolvimento humano e bem viver”, diz Débora sobre os próximos passos com sua pesquisa.

Débora na reunião do programa “Atlânticas” em Brasília. Foto: acervo pessoal

Para o professor Tomaz Longhi Santos, coordenador do PPGMade, o pioneirismo das conquistas das duas alunas reforça o compromisso do programa com ações afirmativas. Ele ainda defende a importância destas políticas na pós-graduação, por contemplar a diversidade de pessoas que existem na sociedade. 

“Se na UFPR já tem uma política de ações afirmativas para o ingresso da graduação, porque não pensar nessa mesma política para o ingresso na pós-graduação? É uma continuidade, um processo contínuo, e uma forma da gente diminuir as desigualdades causadas, seja por forma de reparação histórica com a população negra do país e com outros grupos”, afirma. 

Débora e Fabiane: pioneirismo e inspiração

As trajetórias de Débora e Fabiane vão além das conquistas acadêmicas, representando a força e a resiliência de mulheres negras que rompem barreiras e transformam o cenário da pesquisa brasileira. Sendo alunas cotistas, as duas contam que enfrentaram dificuldades durante suas trajetórias, como desconfianças sobre suas capacidades de realizar as pesquisas.

Fabiane foi primeira colocada pelo PPGMade para a realização do doutorado sanduíche, e ainda ficou entre os dez primeiros da UFPR a serem selecionados para receber bolsa de incentivo à pesquisa. 

“Durante o doutorado foram muitos os comentários externos, de que pela minha origem eu não daria conta das obrigações e requisitos que eram necessários para fazer a pesquisa. Ser a primeira doutora cotista do programa é um marco importante, pois sei da necessidade de mudanças estruturais para combatermos as desigualdades. É também um sentimento de esperança, pois marca o início de muitas mudanças em prol da luta antirracista”, afirma Fabiane sobre o legado que deixa ao PPGMADE.

Já Débora passou por um edital muito concorrido, de notas de corte altas, para ser selecionada no “Mulheres Atlânticas”. Ela vai levar sua pesquisa ao contexto internacional e reforça a importância da presença de cotistas nas universidades: 

“Quem entra por cota nunca entra sozinha ou sozinho. Carrega a luta de uma vida inteira. Nosso trabalho precisa continuar até que tenhamos uma condição mais equânime em relação a raça e gênero”, ressalta.

Com as trajetórias e conquistas de Fabiane e Débora, o professor Tomaz Santos diz ser gratificante para o PPGMade ver a concretização de uma política instituída em 2020, e que essas mulheres são modelos e referenciais sobre o acesso à pós-graduação via cotas.

“Serve como um exemplo para que outras mulheres negras também se vejam encorajadas e estejam contempladas dentro dos dos processos seletivos, e que possam fazer toda a sua formação nos programas das universidades públicas”, diz o professor. 

Por Gabriel Maia e Luana Lopes

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